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sábado, 9 de agosto de 2008

Uma tradição com mais de 200 anos

O Forte da Boa Vontade, no Faial, mantém a tradição de animação musical

No Faial, todos o conhecem por "Forte da Boa Vontade". Situa-se na Corujeira de Cima e a sua música percorre os céus do Faial durante uma semana e meia, por altura das festas de Verão. Uma tradição centenária que é mantida por um grupo de indefectíveis, tendo-se tornado num dos aspectos mais interessantes das festas do Faial.
A abertura do Forte da Boa Vontade acontece todos os anos no sábado da festa de Nossa Senhora da natividade. Pelas 13 horas, logo após a girândola da festa, na Penha d'Aguia, o Forte faz ecoar os sons da Portuguesa, estalados que forem os sinais de fogo. Ouvindo o Hino Nacional, segue-se a girândola, muitas vezes mais abundante que a da própria festa da Senhora. O mesmo ritual repete no sábado da Festa do Senhor.
O encerramento das actividades do Forte só acontece na quarta-feira depois da segunda festa. Durante toda a semana e meia em que esteve em funcionamento, dezenas de horas de emissão de música aconteceram. Foram discos, cd's, cassetes e, mais característico, musica ao vivo. O dia de maior animação é a segunda-feira que se segue à festa do Santíssimo. Tocadores, cantores, populares de diversos sítios da freguesia aí vão, em autêntica romaria. Durante toda a tarde e início de noite é uma festa aquilo que ali se vê. Comeres diversos são levados pelos romeiros, acompanhados de copiosas bebidas. Entre cantares e bailares acontece uma tarde bem passada, partilhada por quem está nas suas casas, transmitida que é a música que ali se toca.
Manuel Gouveia pertence ao grupo de populares que se ocupam da manutenção do Forte, sendo mesmo o que mais dá a cara, aparecendo a colocar a musica, durante quase todo o tempo em que é transmitida. Há muitos anos ligado a esta realidade, Manuel Gouveia fala dela com a vontade de quem quer manter uma tradição centenária. " As pessoas mais idosas afirmam ser uma realidade muito antiga, para cima dos 200 anos. Antigamente era um costume muito frequente, havendo vários fortes espalhados pelos diversos sítios altos da freguesia. Eram locais onde as pessoas se reuniam nas tardes da semana da festa para cantar, bailar e petiscar. Era uma maneira diferente de fazerem a sua festa e completarem o arraial" afirma Manuel Gouveia.



Iluminação com óleo de baleia

Noutros tempos eram muito mais os populares que aqui se dirigiam. " Havia muita animação. Chegaram a fazer-se disparos de canhão, tanto aqui como noutros locais do género, apesar da distância que era preciso percorrer para aqui chegar", comenta.
"Antes da vinda da electricidade, diversos meios de iluminação se usaram. O óleo de baleia era muito utilizado, substituído, posteriormente, pela geradora que produzia a corrente eléctrica necessária", afirma. Hoje, com a chegada da electricidade pública, todo o local é devidamente iluminado com gambiarras diversas, ao modo do arraial. No mastro principal, a bandeira portuguesa flutua ao vento, tendo sido, recentemente, acompanhada pela RAM.
A casa de apoio existente tem cerca de 40 anos. É constituída pelo compartimento que serve de estúdio, por uma arrecadação e por sanitários. Uma das principais dificuldades registadas era a dificuldade do aceso ao local, já que o carro ali dificilmente ia. Com a disponibilização dos materiais por parte da CMS, toda a subida foi acimentada, restando, apenas, a parte chã, junto à casota, e o largo adjacente. Aí já tocaram grupos folclóricos e, mesmo, conjuntos de ritmos modernos. Com o arranjo desejado do largo, deverão estar reunidas as condições para que essa realidade volte a acontecer.
A continuidade da estrada até Santana, já existe mas em terra, é outro dos anseios. Estando toda cimentada deverá dar outras condições a todo o local. Sendo este, um espaço com óptima vista sobre grande parte do Faial e parte da costa norte, será mais um ponto de interesse que se oferecerá a quem o percorrer.
Toda a despesa do Forte resulta da recolha que é feita pela rapaziada nos diversos sítios da freguesia. O apoio dos emigrantes também aparece, com um peso considerável no orçamento das contas. Muitos deles, de visita à Madeira, não esquecem uma ida ao Forte da Boa Vontade, sobretudo na segunda-feira da festa. Toda a receita é canalizada para a manutenção do edifício, da aparelhagem e aquisição de novas músicas.
O Forte da Corujeira aparece como uma tradição que deverá ser única em toda a ilha. Durante semana e meia, por altura das festas de Setembro, ajuda a construir o ambiente festivo com a sua música e alegria. Grande parte dos dias e inicio da noite essa musica é uma presença constante. A vontade de dar continuidade a esta realidade é muita.
O empenho, sobretudo das populações da Corujeira, é grande. A prová-lo está o arranjo que fizeram da estrada e a vontade de que esteja pronta no próximo ano. E a introdução de fogo de artificio, na passada segunda-feira, é exemplo dessa vontade de manter viva uma tradição que é única, sendo um legado dos antepassados, com mais de dois séculos de existência.

M. Luís Macedo (in Diário da Madeira (Finais anos 90))